Li no jornal Público de Quinta-feira, que o ministro da Administração Interna, Figueiredo Lopes apresentou na Assembleia da República o orçamento para a missão de 180 elementos da Guarda Nacional Republicana. Números redondos, “nós”, sim, porque nós somos o Estado (onde é que eu já ouvi isto…), vamos gastar por mês “só” 427 mil euros!!!
A missão tem duração prevista de 12 a 18 meses e, a este valor temos ainda de juntar um suplemento que os militares vão receber que será de, imagine-se, 2490 euros mensais (não sei como alguém consegue sobreviver só com isto, sinceramente…). Fazendo umas continhas rápidas, 2490 euros mensais x 180 elementos (isto porque, integrado na política de poupança deste governo, oficiais e praças vão receber igual – os oficiais devem adorar a ideia) x 18 meses de missão, dá a módica quantia de 8.067.600 euros. Temos ainda de juntar + uma parcela a esta continha, os 427 mil euros mensais x os 18 meses de missão, que redundam nuns simples 7.686.000. Somando, esta missão vai-nos custar 15.753.600 – quinze milhões, setecentos e cinquenta e três mil e seiscentos euros!!!
Todos nós sabemos que a nossa GNR está ao nível de todas as outras melhores polícias do mundo, FBI, Interpol, etc., justificando-se por isso o seu elevado custo. Resumindo e baralhando, esta vai ser uma missão baratíssima.
Pegando noutro ponto da nossa política nacional que atravessa uma grave crise, o ensino superior, o Governo do cherne resolveu passar a batata quente da questão das propinas para as mãos das universidades e dos politécnicos. Mas antes de o fazer, tomou duas medidas que fizeram com que a batata passasse de quente a escaldante. Acertou o valor da propina tendo em conta a evolução económica nacional (qual?) definindo um tecto mínimo, 463,58 euros (o que supera o ordenado mínimo nacional), e um tecto máximo, 850 euros, para o valor das propinas e, cortou o investimento do Estado nas universidades e politécnicos. Ah! Convém acrescentar que o factor base para a definição do valor das propinas de cada universidade e politécnico é a qualidade e excelência dos cursos e das instituições, ou, parafraseando um colega “bloguista“, então não.
Chegou a hora de cruzar dados. De acordo com os dados do instituto nacional de estatística, no lectivo de 2001/2002, no ensino superior público em Portugal estiveram matriculados, 284.789 alunos.
Partindo deste número, pegando nas contas acima explicitadas e utilizando o valor mínimo estipulado pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior para a propina neste ano lectivo, vamos fazer mais um pequeno exercício matemático. O orçamento para a missão da GNR no Iraque (15.753.600 euros) a dividir pelo valor mínimo da propina (463,58 euros) daria para pagar as propinas de 33.982 estudantes. Se utilizarmos o valor da propina do ano transacto que rondava os 350 euros, o número de estudantes com as propinas cobertas pelo orçamento da missão no Iraque sobe para 45.010 estudantes. É óbvio que não cobre o total dos estudantes que actualmente frequentam o ensino superior, mas representa uma fatia muito significativa, se compararmos o custo de 130 elementos durante 18 meses e “só” 45 mil estudantes durante um ano lectivo (+/- 10 meses).
Este pequeno exercício académico serve somente como base para tentar perceber o interesse que esta missão no Iraque tem no conjunto global da nossa realidade nacional na actualidade.
Os Governos olham para a educação com mais um fardo e não como a base sólida que constrói a identidade e cultura do país. O outro tinha a paixão (nunca chegando a amor verdadeiro), este parece que tem o desinteresse.
Atendendo aos objectivos desta missão e ao seu custo, só vejo duas justificações possíveis para a sua extrema importância.
Ou os Estados Unidos estão a ter muitas baixas entre as suas tropas e pretendem dividir o mal pelas aldeias, pedindo carne para canhão aos seus aliados mais fiéis. Entre eles, está claro, Portugal, que contrariando toda a lógica e racionalidade, foi dos primeiros a cerrar fileiras junto aos EUA. Sim, porque nós somos um país tão importante que o colosso norte-americano, não dispensou a nossa participação e apoio!
Ou então esta é uma manobra de diversão e uma brilhante jogada que permitirá a recuperação da economia portuguesa. Com o envio da nossa “melhor” polícia, conhecida pela bela envergadura física dos seus elementos, pretende-se incutir no inimigo o mesmo sentido de capacidade de luta. Daqui a uns tempos é ver a resistência iraquiana a deixar crescer a pança, não esquecendo claro o belo bigode e as patilhas bem farfalhudas da ordem!!! Em termos económicos este envio também pode trazer vantagens, é que com a presença deste contingente português naquela parte do mundo, podemos iniciar o franchising dos belos produtos portugueses tão consumidos por esta polícia. Falo claro, da bela cervejola e da bifaninha, podendo sempre entrar igualmente no menu, a sandes de courato ou os pipis.
Terminando porque a escrita já vai longa, dava jeito ao cherne e restante cardume, rever as prioridades orçamentais porque, não é certamente com desinvestimento na educação e investimentos exagerados em missões que em nada beneficiam Portugal, que vamos sair do buraco. Ou estará o nosso primeiro-ministro à espera que o seu congénere americano, George W. (WAR) Bush, em troca deste apoio militar lhe dê os milhões para investir realmente onde é mais importante.